1940
Em meio às incertezas que assombravam o mundo na década de 1940, Londrina vivia sua própria travessia por tempos difíceis. Era o Brasil sob Getúlio Vargas e seu Estado Novo — uma ditadura que, apesar da distância do front, impôs controles rigorosos à vida cotidiana. Quem hoje circula pelos mercados fartamente abastecidos da cidade pode ter dificuldade em imaginar aquela Londrina marcada por filas, cartões de racionamento e a permanente vigilância dos censores.
O racionamento, sobretudo de alimentos básicos como açúcar, farinha de trigo e pão, redefiniu hábitos. Cada família guardava como um tesouro o cartão de abastecimento carimbado pela polícia, documento que determinava não só o que se podia comprar, mas também quanto e a frequência das compras. O cotidiano tornou-se uma coreografia de espera e frustração: horas na fila para, muitas vezes, voltar para casa com as mãos quase vazias.
Nesse cenário de escassez, qualquer rumor sobre a disponibilidade de alimentos corria como rastilho de pólvora. Bastava alguém espalhar a notícia de que um sítio afastado vendia rapadura ou garapa que logo se formava uma pequena expedição de vizinhos e parentes, percorrendo quilômetros a pé, em busca do que era chamado, não sem razão, de “ouro doce”. A rapadura tinha valor que ia além das calorias: era símbolo de vitória sobre o desânimo e garantia de algum conforto em dias desafiadores.
Além do racionamento, a censura calava correspondências e jornais, e reuniões de grupos considerados “subversivos” eram proibidas. Viajar exigia salvo-conduto — um documento especial, emitido com parcimônia, que restringia a circulação dos cidadãos. Ainda assim, era também nesse clima de privação que a solidariedade brotava com mais força. Compartilhar um pedaço de rapadura, um punhado de farinha, ou mesmo a notícia de um carregamento recém-chegado, tornava-se gesto de resistência silenciosa.
Fontes: Blog Londrina Foto Memória / Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Acervo Londrina Histórica.
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