Diante de uma delegacia de madeira, com telhado de barro e janelas bem alinhadas, ergue-se uma cena insólita capturada em 1940. Um grupo de crianças – meninos, todos em fila, firmes, com semblantes concentrados e mãos coladas às laterais do corpo – está em posição de sentido. Ao lado deles, um policial de uniforme completo acompanha a cena com a rigidez esperada de um superior. À direita, homens de branco, talvez médicos, professores ou membros de alguma instituição civil, parecem acompanhar a solenidade. O comandante tenente Luiz José dos Santos está na fotografia.

A julgar pela disposição, os uniformes e o rigor da pose das crianças, não se trata apenas de uma visita escolar. Uma possibilidade aventada por pesquisadores e cronistas locais é que se tratasse de um programa de formação cívica, bastante comum em tempos de Estado Novo, regime comandado por Getúlio Vargas entre 1937 e 1945. A educação do corpo e da disciplina era parte da pedagogia da nacionalização e da obediência, especialmente no interior em plena fase de colonização e organização institucional.

Um dos garotos parece trajar algo semelhante ao uniforme dos escoteiros – os chamados “lobinhos”. O escotismo teve presença marcante na década de 1930 e 1940, sobretudo nas cidades em formação, como Londrina, onde a ideia de “formar homens de bem” guiava práticas escolares e atividades comunitárias.

A delegacia, ao fundo, também é um retrato de época. A construção modesta mostra como os serviços públicos se consolidavam ao redor da ordem e do controle. Não à toa, a fotografia alinha civis e militares sob um mesmo ideal de “progresso” e disciplina.

Fontes: Boni, Paulo César; Unfried, Rosana Reineri. Memórias Fotográficas. Londrina: Eduel, 2012. / Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Londrina Histórica.

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