Cruzamento de memórias

1950

Muito antes do zumbido constante dos semáforos, Londrina tinha outros sons: o arranhar dos pneus sobre o paralelepípedo, o ronco dos motores Willys e o burburinho das conversas de calçada. A fotografia guarda um instante vibrante do centro da cidade na década de 1950. É o cruzamento da alameda Manoel Ribas com a rua Souza Naves. Hoje, ali está a rotatória dos Pioneiros, mas naquela época, era um dos trechos mais movimentados de uma cidade em transformação.

No canto esquerdo alto da imagem aparece um posto de gasolina enfeitado por letreiros e curiosos, que dá lugar atualmente ao edifício Julio Fuganti. No centro, ao fundo, é possível visualizar a terceira Estação Rodoviária de Londrina, onde anos depois foi construída a Concha Acústica. Na parte direita da imagem, no alto, está o então recém-inaugurado Centro de Saúde, marco de um tempo em que a infraestrutura pública começava a desenhar o futuro urbano de Londrina.

Mas é no primeiro plano que a vida acontece: jipes em movimento, homens de chapéu, garotos descalços, senhoras observando da sombra das marquises. A cena é quase cinematográfica, como se todos tivessem sido convidados a participar de um filme que narrava a rotina de uma cidade em crescimento acelerado.

Os veículos, quase todos jipes, podem estar participando de um desfile ou apenas de uma travessia simbólica entre o velho e o novo. São máquinas que venceram a lama das estradas e ajudaram a fundar escolas, transportar médicos, levar notícias. Veículos que, naquele momento, eram testemunhas do esforço coletivo que erguia Londrina tijolo a tijolo.

Ao redor, o povo. Porque cidade nenhuma se faz só de concreto. Ela se constrói nos olhares, nos encontros de esquina, nas rodas de conversa que se formavam naturalmente nas praças e nos postos. O cruzamento da Manoel Ribas com a Souza Naves era, naquela época, o ponto onde os caminhos se encontravam, um verdadeiro entroncamento de memórias.

Fontes: Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss / Acervo Londrina Histórica.