Destaca-se na foto uma perspectiva do edifício que abrigou o Hotel Monções em avançado estágio de construção. Depois de sua inauguração em 1953, a rotina do Monções não se resumia ao sobe e desce dos hóspedes em seus quartos. Era ali, na portaria tida como “a melhor do Paraná”, que nasciam histórias que, até hoje, estão no imaginário de quem viveu a época de ouro da “capital do café”. O balcão de atendimento se tornava confidente, confessionário e até palco de pequenas traquinagens que reforçavam o carisma da casa.

No restaurante modesto, mas sempre movimentado, a caipirinha — eleita a melhor de Londrina — atraía boêmios e cafeicultores. Aos sábados, não havia lugar para sentar. Entre uma rodada e outra, as negociações corriam soltas. Na cozinha, o prato mais pedido era o mexido: ovos, presunto, queijo e tomates perfumando o ambiente, enquanto garçons iam e vinham, carregando bilhetes que diziam: “Acorde-me às seis, menos se estiver chovendo.”

É que o barro vermelho das ruas não perdoava. Quando a chuva caía, os viajantes preferiam esquecer compromissos e prolongar o descanso. Para amenizar a bagunça, a equipe espalhava pó de serra na entrada, tentando conter as pegadas lamacentas dos que vinham da zona boêmia — clientela frequente e conhecida pelo afeto que nutriam pelos funcionários.

Ainda que modesto, o Monções transbordava dignidade e gentileza. Seus hóspedes se sentiam parte de algo maior: um refúgio onde o cafezinho era forte, o sorriso vinha fácil e a conta podia esperar até o mês seguinte. Para muitos, essas lembranças valem mais que qualquer luxo. No Monções, a hospitalidade era feita de afeto e isso nenhum outro hotel conseguiu replicar.

Fontes: “Monções: o hotel da ‘capital do café’”, de André Dantas, encontrado em: “Hotéis históricos do Norte do Paraná”, organizado por Paulo César Boni e Juliana de Oliveira Teixeira. Midiograf, 2013. / Acervo Londrina Histórica.

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