No cruzamento da avenida Rio de Janeiro com a alameda Manoel Ribas, nos anos 1950, um homem posa diante da câmera de um lambe-lambe em plena manhã enevoada. A silhueta discreta ao fundo revela o Bosque Marechal Cândido Rondon. Fora do enquadramento, à esquerda, estava o imponente do prédio do então Fórum Municipal — hoje sede da Biblioteca Pública Municipal de Londrina Pedro Viriato Parigot de Souza —, e à direita, ficava a antiga Igreja Matriz, substituída anos depois pela Catedral Metropolitana.

O fotógrafo que manuseia a caixa mágica sobre o tripé é José Juliani, pioneiro da fotografia londrinense, uma espécie de cronista visual da formação da cidade. Com seu equipamento, ele eternizou cenas do cotidiano, gestos simples e pessoas anônimas que ajudaram a construir a identidade londrinense — como o senhor de chapéu de abas largas que aguarda a sua fotografia, possivelmente para enviar o retrato à família distante ou mesmo para tirar um documento.

Esses fotógrafos de rua, os “lambe-lambes”, ocupavam as calçadas e praças como verdadeiros ateliês a céu aberto. Em tempos em que ter uma câmera era um luxo, esses retratistas ofereciam um serviço acessível, mas carregado de valor simbólico: registrar um instante. A imagem revela tanto a função documental da fotografia quanto seu papel afetivo, social e político — era também uma maneira de “existir” oficialmente na cidade em construção.

Juliani, imigrante italiano, encontrou em Londrina o cenário ideal para seu ofício. Seu acervo é hoje parte fundamental da memória fotográfica da cidade, preservado pelo Museu Histórico de Londrina e citado em inúmeras pesquisas acadêmicas sobre iconografia urbana.

Fontes: Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss/ Foto: José Juliani / Acervo Londrina Histórica.

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