1960
Em meados dos anos 1960, Londrina ainda era lembrada pelos cafezais e pela poeira vermelha. Mas foi dentro de um galpão de madeira, no Hospital Evangélico, que um grupo de médicos ousou tocar um território até então sagrado: o coração humano. Ali, entre cães utilizados em experimentos e jovens estudantes que aprendiam mais com o improviso do que com livros, nasciam os primeiros passos da cirurgia cardíaca no Norte do Paraná.
O feito explodiu em manchete com a frase “Mãos de luva que mexem com o coração da gente”, estampada na Folha de Londrina. Octávio Canesin e Luiz Carlos Jeolás lideraram uma equipe de quinze médicos que, com a ajuda do inventor Waldir Jazbik, utilizaram pela primeira vez na região a bomba coração-pulmão artificial, uma máquina capaz de manter a vida suspensa para que o bisturi alcançasse lesões antes inalcançáveis. A intervenção foi tanto um avanço técnico quanto um teste de fé coletiva. Pela primeira vez, pacientes e famílias aceitavam que a vida poderia depender de máquinas.
A primeira paciente, uma mulher de 32 anos, submeteu-se à comissurotomia mitral. No dia seguinte, Flora, instrumentadora da própria equipe, tornou-se a segunda operada, uma prova de confiança radical na missão em curso. O sucesso fortaleceu um projeto que Canesin e Jeolás vinham maturando há anos, incluindo treinamento em São Paulo e até campanhas jornalísticas, como a que viabilizou o primeiro marca-passo para Maria Madalena Brasil, diagnosticada com doença de Chagas.
Essas cirurgias inaugurais revelaram algo além do pioneirismo médico: mostraram que Londrina podia acreditar no futuro por vias científicas. Canesin e Jeolás abriram portas que, em 1972, seriam institucionalizadas com a chegada de Ronald Souza Peixoto, cirurgião formado no exterior, consolidando o Hospital Evangélico como referência cardiovascular do interior brasileiro.
A foto registra o Hospital Evangélico de Londrina, em 1969.
Fontes: José Antônio Pedriali. Uma viagem através do tempo. Do pioneirismo à modernidade: evolução dos serviços médicos de Londrina. Londrina: Museu Histórico de Londrina, Unimed, 2021. 123 p. / Hospital Evangélico de Londrina / Acervo Londrina Histórica.
Compartilhe
* respeitamos nossos inscritos, não enviamos spam.
* respeitamos nossos inscritos, não enviamos spam.
Cookies: nós captamos dados por meio de formulários para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.