Em 1998, Londrina recebeu uma visita ilustre que deixaria marcas importantes na memória teatral da cidade: o dramaturgo paulista Plínio Marcos. Autor de textos que escancararam as margens do Brasil urbano e deram voz a personagens silenciados, como prostitutas, malandros, presidiários, Plínio veio acompanhar uma montagem de O Abajur Lilás, encenada pelo grupo Boca de Baco sob direção de André Luiz Lopes.

A peça, escrita em 1969, é um dos retratos mais duros e humanos do submundo brasileiro. Ambientada em um quarto de prostituição, ela expõe com crueza a violência, a miséria e a ternura que coexistem nas esquinas esquecidas do país. Para o Boca de Baco, que havia sido criado em 1990 a partir de uma oficina de teatro amador, encenar Plínio Marcos era um grande salto, um gesto de maturidade artística e coragem cênica.

A expectativa era encontrar o famoso “maldito” do teatro brasileiro, de temperamento explosivo e marginal. Mas, no aeroporto, o grupo se deparou com um homem afável, curioso e cheio de histórias. Plínio Marcos andou pela cidade, deu entrevistas (entre elas uma feita pelo jornalista Rodrigo Grota e publicada na Folha de Londrina)  e pediu para ir aos restaurantes que tinha referência. Ele acompanhou alguns ensaios e presenciou a estreia da peça. Ficou especialmente impressionado ao ver dois homens interpretando as prostitutas da trama, uma escolha ousada, que conferia à montagem um novo olhar sobre gênero e representação.

A visita o autor deu novo fôlego ao Boca de Baco. O dramaturgo elogiou a entrega e a persistência de um grupo que, mesmo sem estrutura profissional, mantinha vivo o espírito do teatro popular, aquele que nasce do corpo, da rua e da vontade de dizer o que não cabe em silêncio.

Fontes: Acervo Boca de Baco / Entrevista com Jackeline Seglin, publicada na matéria “Os remanescentes de uma geração”, Gazeta do Povo, 26/06/2010 / Foto: Milton Dória / Acervo Londrina Histórica.

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