Quem passava pela rua Professor João Cândido, quase na esquina com a avenida JK, encontrava um tipo de permanência rara numa cidade que vive se refazendo. O Bar do Jota atravessou décadas sem tentar “se atualizar”. Era, justamente, o contrário: um lugar em que a repetição virava garantia. Você entrava e sabia o que encontraria e isso, para muita gente, era o principal.

A arquitetura do bar funcionava como assinatura. As paredes de azulejo verde não eram decoração: eram prova de que o tempo ali tinha outro ritmo. O balcão de fórmica, gasto de uso, era mais lembrado do que qualquer cardápio. E as mesas de sinuca, apertadas no espaço, impunham uma coreografia inevitável: quem ia ao banheiro precisava negociar passagem, pedir licença, encostar no ombro de desconhecidos. O Jota ensinava convivência pelo aperto.

Havia também uma forma própria de sociabilidade, construída por rituais mínimos. Um copo derrubado não interrompia a noite, virava sinal. Palmas, assovios, gargalhadas: a “punição” era coletiva e divertida, como se o bar confirmasse, em segundos, que ninguém estava ali para manter pose. Esse pequeno ritual dizia muito sobre o lugar: quem frequenta de verdade aceita ser visto, aceita errar, aceita participar.

O público do Jota era menos uma “tribo” e mais uma mistura. Em noites diferentes, e às vezes na mesma mesa, a conversa juntava gente da cultura, da política, da boemia e da rua. O bar servia como um ponto neutro, onde as hierarquias enfraqueciam um pouco, pelo menos até o dia nascer. E, no meio disso, havia personagens que não se substituem. O garçom Mad aparece nas memórias como presença estruturante: atendia, regulava o clima, reconhecia habitués, fazia o lugar funcionar.

Em 2015, o Bar do Jota fechou. O imóvel foi demolido.

Fontes: Portal O londrinense / Acervo Londrina Histórica.

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